19 de outubro de 2013

31. ENCIUMADA



O dia passou rápido, como sempre, quando estou me divertindo.
A Bia contou ao Mike como era “mágica a magia”, dei muita risada pela redundância, eu falei sobre a festa de ontem e outras coisas.
Comecei a ficar preocupada com o horário, já estava anoitecendo e a Anne, ou o Joseph, poderiam chegar. Queria que tia Alice estivesse aqui, por prevenção. A Anne até que tudo bem, mas o Joseph eu já teria que me preocupar.
-Bia, vamos? – eu perguntei á ela, enquanto contava uma animada história.
-Ah, já? Vamos passar a noite aqui? Vampiros não dormem...
-Tá, mais você dorme. – eu argumentei.
-Você está preocupada que eles cheguem? Ou... Não quer mais a minha companhia? – ele perguntou com seu sempre humor cômico, eu semicerrei os olhos, ele riu – Ainda quero uma resposta, apesar de que não iria ligar se você continuasse á me olhar assim... – ele deu um sorriso malicioso.
-Mike... Eu nunca vou me cansar da sua presença, espero. – disse rindo – Mas é isso mesmo, tenho receio que eles possam chegar enquanto a Bia estiver aqui. –eu terminei, séria.
-Teria muito problema, eu conhecê-los? – a Bia disse chateada e preocupada.
-Eu acho que sim... – olhei pro Mike, ele concordou.
-Então teremos que ir? Mesmo? – eu levantei uma sobrancelha como se dissesse “Preciso mesmo responder?”. – Tá. Então vamos. - ela se levantou.
O Mike me parecia chateado.
-Deixa que levo vocês, então. – ele ofereceu e pegou as chaves em cima da estante.
-Se não for incomodo. Agradecemos. – eu não preciso saber os pensamentos da Bia para saber que ela não trocaria o metrô pelo carro do Mike.
E nós saímos, eu fiquei ao lado do Mike e a Bia atrás, que ficou super feliz e animada no carro, ele colocou um CD que tocou uma música francesa, com uma batida forte e contagiante.
Quando chegamos, a Bia olhou decepcionada para o hotel.
-Não se preocupe, nos veremos outro dia. – Mike se virou para trás.
-Amanhã? – era possível ser seus olhos brilharem.
-Hã... Vamos ver. – eu interrompi, ela fez bico.
Nós saímos do carro e eu me abaixei para o lado do motorista, para falar com o Mike.
-Até amanhã? – perguntei.
-Como sempre... – ele sorriu, todo charmoso.
-Tchau! – e dei um beijo no rosto dele, me afastei e acenei junto com a Bia enquanto ele ia embora.
-Será que eles já voltaram? – eu perguntei enquanto subimos para o quarto.
-Acho que sim...
Eu abri a porta e vimos a Gabi com um vestido curto, preto brilhante, ela estava colocando brincos de argola.
-Vai sai? – Bianca perguntou.
-O pessoal ta se arrumando para ir ao RedClub, uma balada interna á umas quadro quadras daqui, vamos de taxi. Querem ir? – ela nos convidou, eu olhei pra Bia, fazendo uma careta.
-Não sei... Vamos? – ela me perguntou.
-Eu estava pensando em mandar as últimas fotos pra minha família, você não falou para mandar as fotos de como estava ontem para Alice? Além do mais, ontem eu já fui a uma festa, dessa vez eu passo...
-Ta. Mas acho que vou sim. Vai que encontro algum gatinho... Mesmo que depois de hoje, de ver visto o Mike, vai ser difícil encontrar alguém mais bonito que ele, mas... Posso tentar. – ela abriu seu armário.
-Hein? Mike? Quem é? – a Gabi perguntou curiosa. – E... Bia, vamos sair daqui a uns 15 minutos, vai logo!
A Bia se apressou, colocando um vestido tomara-que-caia vermelho com branco.
-É um amigo meu... – eu disse sem dar detalhes.
-Hum... Ele tem compromisso?
-Sim. – era melhor eu acabar com qualquer tentativa de aproximação.
Mesmo ele não tendo nenhum compromisso, não é? Nem comigo, nem com sua ex.
-Que saco... – ela torceu a boca, eu sorri.
A Bia colocou a primeira sandália que viu e passou uma sombra escura destacando seus olhos quase mel. Elas estavam prontas.
-Boa festa! – eu desejei, enquanto ligava meu notebook.
-Tchau. – a Bia disse animada e fechou a porta.
Eu descarreguei as fotos da minha câmera, tinha fotos da Torre Eiffel á noite, da cafeteria e muitas outras, mandei todas para o e-mail da Alice, junto com uma mensagem:

Como sempre estou mostrando como tem sido minha rotina aqui,que está sendo muito divertida. Cada dia uma nova surpresa...

Melhor que tudo isso, seria se vocês estivessem aquiou se eu estivesse em casa.

Falta só mais uma semana, fala pro Jake que estou chegando.

Um beijo pra minha mãe, pro meu pai, pra todo mundo.

Amo todos vocês. Saudades...                                                                                                                                                                                                        Renesmee Cullen


Depois fui pra cama, fiquei ouvindo música e acabei caindo no sono.

No dia seguinte acordei incomoda com imagens de algo que tinha sonhado, mas não conseguia lembrar tudo. Era rápido, mas também lento, algumas claras, outras escuras, me lembro de um par de olhos vermelhos que iam ficando negros, da Bia, do Mike e mais...
-Bom dia. – a Bia disse á mim enquanto arrumava a cama dela, a Gabi não estava no quarto.
-Como foi a sua noite? – eu não estava acreditando que tinha dormindo tão facilmente e a noite toda.
-Hum... Interessante. A Gabi beijou uns três garotos, eu... apenas um, mas nem vai pra frente. – ela mordeu o lábio decepcionada. Eu ri de leve. - Mas vamos ver o Mike, hoje?
-Não sei, vamos fazer assim: Eu vou vê-lo e se não tiver problema, eu te ligo e você vai pra lá, lembra do caminho?
-Ah, não muito... Mas por que não posso ir com você, igual ontem?
-Foi sorte o Joseph e a Anne não estarem, mas hoje é muito provável que sim, e mesmo que você fique na recepção ou na rua pode encontrar com eles ou com outro vampiro inquilino que esteja por perto, e também – eu olhei para o céu pela varanda – está Sol.
-Então... Melhor ainda, vamos agora, de dia! – ela me interrompeu.
-Se eles estiverem lá teriam que ficar no apartamento, terão dificuldade para sair. – ela fez cara de desconfiada, mas concordou.
-Certo... Mas você vai de dia ou á noite?
-Prefiro á noite... Assim podemos sair para um barzinho ou coisa do tipo.
-Hum... Ok! E... O que vamos fazer nesse tempo livre? Para a excursão? – eu fiz uma careta.
-Não. Vamos passear por ai. – ela concordou.
Nos trocamos e descemos, todo mundo ia sair com os guias, eu e a Bia resolvemos que depois do almoço íamos passear de barco pelo Rio Sena.
Almoçamos no hotel, foi à primeira fez que comi com vontade, e saímos, fomos andando até Quai d’Orsay e entramos no barco junto com mais cinco pessoas, estava tudo muito tranquilo, tocava uma música que lembrava jazz. Era espaçoso, serviam petiscos e bebidas.
Eu queria e não queria tocar no assunto de ontem, sobre a idéia de que algum dia teria que deixar minha amiga morrer, aquilo fazia meu coração ficar apertado.
-Bia – eu sussurrei – Você realmente... não se transformaria? – nos estávamos sentadas na parte da frente do barco, a pessoa mais próxima de nós estava á uns 4 metros.
-Falei... mas não se preocupe, temos muitos e muitos anos juntas pela frente. Agora, o pior vai ser envelhecer e te ver linda e jovem assim... – ela riu, eu a abracei e fiquei um bom tempo assim.
Conversamos bastante... Ela me falou que tinha um meio-irmão por parte de pai, dois tios e que sua avó cuidou dela por muito tempo.
Depois fomos a uma sorveteria e a uma loja de roupas, até dar seis horas.
-Acho melhor já ir indo. – eu disse quando chegamos ao hotel.
-Tá! Aí depois você me liga. – ela disse enquanto entrava.
-Vai ser até bom, por que se você quiser, agente vem te buscar de carro. – eu argumentei.
-Sério? Eu ia ama! – ela se empolgou, dei um beijo nela e sai.
Cheguei a Versalhes quase ás sete, o porteiro já me conhecia e me deixou subir sem problemas.
No corredor do apartamento senti um cheiro diferente, eu franzi o cenho tentando lembrar se era de alguém que já conhecia, mas não.
A porta estava um pouco aberta, eu estranhei, e quando ia tocar a maçaneta, o Mike apareceu. Ao me ver, arregalou os olhos surpreso e fechou a porta para que eu pudesse ver apenas seu rosto.
-Não é uma boa hora, Nessie... – sua voz estava baixa e preocupada.
-Quem é? – uma voz feminina e delicada perguntou de dentro, ele olhou para trás e voltou á mim.
-Acho melhor você voltar outra hora. – ele fechou os olhos, irritado, por alguns instantes – Desculpe, mas estou com companhia. – eu analisei seu rosto, ele estava meio nervoso.
-É a Meredith? – comecei a ouvir leves passos pelo apartamento.
-Ela chegou faz pouco tempo. – sua voz era presunçosa, eu o fitei curiosa, enquanto ele franzia a testa. - Você realmente está pensando em conhecê-la, não está?
-Sim. – ele suspirou.
-Acho que não vai adiantar eu falar que não é uma boa idéia, vai? – eu balancei a cabeça negativamente.
Ele abriu a porta e eu entrei devagar, não tinha ninguém na sala, mas o cheiro de vampiro desconhecido fazia meus músculos se contraírem.
Fiquei em pé perto do sofá, o Mike fechou a porta e ficou me olhando.
Logo sem seguida ela apareceu, tinha cabelos castanhos claros, quase loiros que iam escurecendo nas pontas, era fino e com grandes ondas, seu rosto era marcante e tão enigmático quanto o do Mike. Ela poderia ser muito bem a mocinha da história como a pior das vilãs, seus olhos vermelho sangue me analisaram surpresos, ela se aproximou do Mike lentamente, me fitando como se fosse uma presa, seus movimentos me lembraram de uma leoa ou uma ardilosa raposa.
-Quem é? – sua voz tão séria quanto sua expressão.
-Ela é Renesmee, uma hibrida. – não foi a primeira vez que tinha ouvido alguém me chamar assim, mas nunca me incomodei, pois queria dizer que eu tinha o melhor dos dois mundos, assim me explicou Carlisle.
Ela franziu o cenho, eu me perguntei se ela saberia que sou uma Cullen.
-Hibrida? – sua voz foi mudando de firme, para mesquinha. -Já conheci vários mestiços. – eu a encarei nervosa pelo modo como ela disse mestiço, que não era a mesma coisa de hibrido. – E tenho que admitir que você é mais bonitinha do que as que conheci...
-“as”? – eu estranhei.
-Um vampiro estúpido estava “tentando” criar um exercito de mestiços há uns 20 anos e nós tivemos que interferir. – sua voz era fria.
Presumi que o “nós” á que ela se referiu eram os Volturi e me lembrei do pai de Nahuel.
-As irmãs de Nahuel. – eu sussurrei
-Então você as conheceu? Típico. É claro que você conheceria gente da sua raça. – o desprezo na voz dela, me deixava cada vez mais irritada - Como você á conheceu? – ela perguntou ao Mike.
-Por acaso. – ele sorriu pra mim, ela não gostou nem um pouco.
-Hum... Nômade da cidade? – ela parecia estar afirmando.
-Não! Sou uma Cullen. – eu sabia que aquele nome soaria como um balde de água fria para ela, que arregalou os olhos, mas logo em seguida se recompôs.
-Cullen? Você é a famosa filha de Edward... – a voz dela era curiosa.
-Sim. Sou filha de Bella e Edward Cullen. – eu disse orgulhosa.
-Então era você... O bebê que achamos que fosse imortal. – ela disse pensativa e surpresa.
-Você estava lá?
-Não, estava á trabalho, não teria chegado á tempo, ajudei á recolher testemunhas, mas não pude comparecer. Depois me mandaram procurar, caçar o infrator que estava criando mestiços.
-E por falar em infrator, sabe alguma coisa sobre o que está acontecendo nos últimos dias? – o Mike interrompeu.
-Pouco, eles estão fugindo de nós. Eu estava seguindo seus rastros, por isso não pude vir à festa, – ela disse decepcionada – mas pude voltar hoje, pois eles não estão mais pela Europa, provavelmente foram para a América. – eu interrompi minha respiração, eles perceberam.
Estariam na América e era mais de um, era só nisso que pensava.
-Por que será que estão matando? Quantos já foram? – Mike perguntou
-Dezoito humanos no total, variando entre Espanha, Itália, Portugal e Egito, além de três vampiros da Itália e dois do Egito. Muito estranho... – ela respondeu.
-Recém-nascidos? – Mike perguntou
-Hum... Muito improvável. Os poucos rastros que deixaram, além das mortes, não são típicos de recém-nascidos. Talvez... – ela me encarou – Não sabem onde é o seu lugar. – ela disse com desprezo, apoiou as mãos no ombro esquerdo do Mike e ficou olhando pra ele de perfil. – Sei de muitos mitos e histórias sobre mestiços, mas gostaria de saber se são verídicos... Não brilham no Sol, se alimentam de comida humana, tem a força, velocidade e sentidos sobre-humanos, o coração bate, como posso perceber. Como deve ser não pertencer a nenhum dos dois mundos? – eu não sabia se ela estava perguntando pra mim ou para o Mike, cinicamente. Ele tirou as mãos dela de seu ombro delicadamente.
-Pelo contrário, ela está em ambos, possui o melhor dos dois. – ele sorriu pra mim e deu um olhar sombrio para Meredith, ela me olhou com raiva e intrigada como se quisesse saber por que eu seria tão especial.
-E o que a pérola dos Cullen faz tão longe de casa? – a minha impressão era que ela realmente queria me irritar.
-Viagem escolar. – eu semicerrei os olhos, á observando.
-Escolar! – ela debochou, eu levantei uma sobrancelha – Já era de se esperar...
-Por quê? – acho que o Mike percebeu a irritação na minha voz e se pôs ao meu lado.
-Você ainda é um bebê! Talvez... – ela me fitou – 15 aninhos?
-Vinte. – eu disse entre os dentes, ela manteve a mesma expressão desinteressada, me querendo tirar do sério.
-É verdade, que... – ela me olhou desconfiada – você também possui uma habilidade?
-Sim. – eu levantei levemente o queixo, ficamos em silêncio, esperando que alguém falasse.
-Qual? – ela sussurrou.
-Posso penetrar na mente de qualquer um e mostrar o que quiser.
-Ah! Nem é tão útil assim... – ela debochou – Sabe qual o meu? – sua voz desafiadora e orgulhosa.
-Sei... Neutraliza uma habilidade e dá a ilusão de dor por fogo. – ela me olhou surpresa e irritada, pois tinha perdido á chance de se exibir. – E... Tenho mais uma habilidade, posso ler mentes. – ela arregalou os olhos, mas depois voltou a me olhar desconfiada.
-O poder de Edward. Aro nem sabe disso... – ela disse entre os dentes nervosa, eu concordei. - Quanto tempo pretende ficar por aqui? – era possível ver o desprezo em sua fina voz.
-Quatro dias. – olhei pro Mike que estava pensativo e depois pra ela que estava totalmente enciumada.
O que ela dizia eram coisas que me irritavam fácil, mas poderia me controlar - com esforço.
Só não sei como alguém tão doce e gentil como o Mike pôde ficar com ela por mais de 100 anos... Ela teria que ter algum ponto positivo, além de sua beleza. E se ela amasse tanto assim o Mike, por que não desistiu dos Volturi pra ficar com ele?
Eu não consigo entender, além de presumir que ela não ama tanto ele assim...

“Algumas pessoas demonstram tanto respeito por seus superiores
que não sobra nenhum para elas mesmas.”


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