3 de dezembro de 2012

25. LUA



Ele ficou quieto e continuamos andando. Paramos perto de uma barraquinha de sorvete.
-Você quer? – ele me ofereceu.
-Hum... Não sei, eu experimentei uma vez, mas não me agradou muito. – fiz uma careta.
-Experimente de novo. Tudo muda, sempre tem alguma coisa diferente. – ele sorriu e foi comprar – Algum sabor em especial?
- Tanto faz. – eu dei de ombros e peguei meu celular.
Quando ia discar os números, Mike me entregou um sorvete de chocolate.
-Aposto que faz esse passeio com todas as outras... – brinquei.
-Claro. Mas geralmente elas gostam quando ofereço o sorvete. – nós rimos.
Eu levei a passinha de madeira lentamente á boca, senti minha língua ficar gelada, refrescando minha boca, podia separar cada ingrediente adicionado ao sorvete, juntando tudo, não era muito ruim.
-E aí? – ele analisava minha expressão.
-Ah, mais ou menos... – eu comi mais um pouco.
-Eu estava curioso... Será que poderia sentir o gosto do sorvete como você sente, pela sua habilidade? Pois pra mim não tem gosto de nada.
-Não sei, será possível? Quer tentar... – eu ofereci minha mão, ele a tocou.
E mostrei tudo que havia sentido ao tomar o sorvete.
-E... – eu esperei
-Hum... Foi fraco, mas senti um gosto doce e gelado, era como uma lembrança, longínquo.
- É mais ou menos isso... Não sei explicar. Meu avô já me explicou varias vezes... Você poderia conhecê-lo um dia. – eu pensei animada com uma possível aproximação do Mike á minha família.
-Eu adoraria...
Quando terminei de tomar o sorvete, meu telefone tocou e eu finalmente consegui atender.
-Jake! – eu disse eufórica.
-Nessie, o que aconteceu? Você falou que ia ligar e... – sua voz preocupada.
Olhei pro Mike, ele sorriu e se afastou... Eu andei até onde não tinha ninguém, debaixo de uma grande árvore.
-É que hoje foi um dia cheio e não deu tempo... Desculpe. – eu expliquei, tentando manter minha voz o mais normal possível.
-Ai amor, você me preocupou. Então está tudo bem? – podia ouvir sua respiração voltar ao normal.
-Sim... Estou querendo falar com você desde ontem. Você está em La Push? – queria dar um oi pra minha família.
-Não, estou perto de Quilcene, tem algo estranho acontecendo... – sua voz um pouco rouca, séria.
-Como assim? – eu me assustei.
-Não sei explicar, não temos muitas informações, apenas sabemos que  alguma coisa errada está acontecendo pela Europa, alguma coisa envolvendo uns vampiros, mas estamos preocupados e... Achamos melhor você voltar.
Meu coração deu um batimento em falso, fiquei sem ar por um instante...
-Eu não posso deixá-los agora. – eu disse em um tom elevado – A situação está tão grave assim?
Ele respirou profundamente duas vezes.
-Ainda não, mas... Você não quer voltar? Aproveitar a oportunidade e... – ele estava meio melancólico.
Eu suspirei, meus olhos começaram á arder, a vontade de atravessar o oceano e abraçá-lo, de não deixá-lo nunca mais triste, chateado comigo aumentando.
-Jake... - eu ofeguei – Eu te amo mais que tudo, mas não quero deixar nesse momento Paris, a Bia, o M- eu parei, não poderia falar pra ele sobre o Mike, pois se dissesse que estou andando com um vampiro, é bem provável que ele viria pessoalmente me buscar pra voltar pra casa.
-O que você disse?
- Vamos ver com as coisas vão ficar, quando souberem o que realmente está havendo e se devemos nos preocupar... Eu volto pra casa. – disse decidida.
-Tudo bem... Está divertido aí em Paris? – ele tentava mostrar entusiasmo, eu sorri olhando pro parque a minha frente.
-Sim, estou em um parque de diversões agora.
-Faz tempo que não vamos á um, não é?– ele ainda estava triste.
-É... – meu sorriso foi sumindo – Jake está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? – ele respirou fundo.
-Não se preocupe, minha pequena Nessie, é apenas essa vontade interminável de querer estar ao seu lado. – sua voz doce.
-Eu também, às vezes me sinto tão gelada, como se sem você eu não conseguisse me aquecer...
- Não se esqueça que é o Sol que tem brilho, calor próprio. Na verdade é sempre você quem me aquece, eu to quase tão gelado quando sua família. – ele riu sem graça, eu sorri ouvindo seu riso, mesmo que forçado, e apertei um pouco mais o celular contra a orelha.
-Mas sem a Lua as noites seriam pura escuridão, não teria brilho, vida... Precisamos um do outro... – sussurrei.
-Eu preciso de você aqui. – ele falou baixinho
-Por favor, não me peça para voltar, é muito difícil recusar alguma coisa que você me pede. – eu supliquei
-Ah e você acha que é mais fácil pra mim? Só pelo fato de você estar falando desse jeitinho triste, sofrendo, eu me sinto o pior namorado do mundo. – eu achei que ele estive brincando, mas não estava.
-Desculpe...
-Não se desculpe, eu que deveria, sei que é difícil pra você ficar longe daqui e eu só fazendo você se sentir pior... – ele falou nervoso.
- Para! Para de dizer que você me deixa triste, pois isso não é verdade. Essa discussão irá durar até que eu volte, então vamos parar por aqui. – eu realmente não queria ficar brava comigo, muito menos com ele.
-Ok. – ele suspirou
Eu olhei pro Mike, quando ele encontrou meu olhar, ele desviou envergonhado.
-Jake, vou ter que desligar. – eu realmente não queria.
-Claro, Nessie. Quando tiver mais notícias te ligo!
-Ok... Te amo. – senti um peso no peito.
-Eu também...
Eu olhei para a tecla vermelha do celular e apertei, sofrendo mentalmente.
Mike se aproximou, eu guardei o celular.
-Você ouviu alguma coisa? – perguntei indiferente.
-Não. – ele estava um pouco preocupado. – Alguma coisa aconteceu?
-Não sei, Jacob disse que está havendo alguma coisa suspeita, talvez algum vampiro infringindo alguma regra... – dei de ombros – Você está sabendo de alguma coisa?
-Não. - ele franziu o cenho – Depois vou pergunta pro Joseph, talvez ele saiba de alguma coisa.
-Ah, por falar nele, quando é a tal festa?
-Amanhã, por quê?- ele me olhou curioso. – Você quer ir?
-Hum... Eu estava curiosa para conhecer a Meredith, a Anne... - omiti apenas a parte de conhecer a festa, ele ficou sério. – Algo errado?
- Pode não ser uma boa idéia você conhecer a Meredith.
-Por quê? Eu sei que ela é meio egocêntrica, tem hábitos alimentares ruins, mas ela é pior que o Joseph?
-Além dê ter uma habilidade perigosa, ela possui uma língua afiada, um humor ácido... Talvez você se ofenda com alguma coisa que ela diga.
- Não precisa se preocupar... Acho que posso suportá-la. – eu ri, mas ele me olhou preocupado.

 “- a Meredith seria muito capaz de atacá-la, mas eu não vou deixar que encoste um dedo nela.” – ele pensou

-Porque ela me atacaria? – perguntei abismada
-Um hábito idiota dos Volturi, sabe? Atacar primeiro, perguntar depois...
Será que ela seria capaz de querer me matar?
Nós continuamos andando pelo parque... Ficamos lá ate os brinquedos começarem á fechar.
Quando saímos, ele pegou meu pulso e com agilidade desamarrou o balão.
-Acho que isso já te incomodou bastante. – sua voz suave
-O que? Não. Eu quero ficar com ele! – eu peguei o cordão de volta, ele me observou – Quero guardar de recordação, gostei muito de passar esse tempo com você. – dei um sorriso torto
-Eu também. – ele retribuiu meu sorriso. – Vamos pra minha casa?
-Hum... – eu olhei no visor do meu celular, já era quase meia-noite. – Acho melhor voltar.
-Ah, que pena. – ele deu um sorriso meio triste. – Mas... Então você vai comigo amanhã na festa?
-Sim. – eu disse confiante – Onde vai ser?
-Na minha casa. – ele disse meio presunçoso.
-Verdade? Nossa, mas não é uma festa dada pelo Joseph?
-É. – ele franziu o cenho – Mas ele acha que o meu apartamento é mais bem localizado, na verdade ele gosta mesmo é de fazer bagunça na casa dos outros. – ele riu
- Entendi. – eu sorri, não era só impressão o Joseph era realmente folgado. – Mas porque você é amigo dele? Ele é meio arrogante e têm outros defeitinhos, você é tão diferente dele...
-Bem... Depois que a Meredith me transformou nos meus primeiros meses de recém-nascido ela não pode ficar comigo e o Joseph é um velho amigo dela, ele meio de cuidou de mim. – ele disse meio envergonhado. – Ele me ensinou tudo nos meus primeiros dias, foi quem me orientou. Depois fui pra Volterra com a Meredith, mas ele acabou virando um grande amigo, quando você conhecê-lo melhor verá que ele não é tão ruim assim... Espero. – ele riu.
-Entendi, é como se ele fosse seu mentor. – ele concordou – Quantos anos ele tem? Você falou que era muito velho, mas...
-Hum... – ele pensou – Mais ou menos 350 anos, se não estou enganado ele nasceu em 1655, não sei muito bem a história dele, ele nunca quis falar muito sobre isso. – ele mexeu no cabelo, percebi que aquilo era uma mania, eu ri discretamente.
-Ele tem quase a idade de meu avô Carlisle... Só alguns anos mais novo.
-Eu acho que me lembro dos Volturi falando algo sobre a família do Carlisle, sua família. – ele franziu a testa, eu esperei curiosa. – Alguma coisa sobre mais vampiros terem se juntado á eles, que estavam ficando mais fortes...
-Acho que foi na época que minha tia Alice e Jasper se juntaram a família... – era provável.
-Acho que sim, uma vampira vidente e o outro podia controlar as emoções ou coisa assim. – ele acrescentou.
-Sim. –  concordei.
-Sua família é bem dotada, hein?! – ele riu- Seus tios, você, não me diga que seus pais também possuem habilidades? – eu ri.
-Sim, meu pai pode ler mentes como eu, mas sua habilidade é muito mais forte que a minha e a minha mãe tem a capacidade de bloquear ataques não-físicos como se fosse um escudo psíquico ao seu redor e também ao redor das pessoas que quer proteger... – eu sorri, ele arregalou os olhos.
-Sério? Não é a toa que os Volturi tenham tanta inveja dos Cullen. – eu dei de ombros.
Ele me contou como foram seus primeiros dias em Volterra e algumas das atrocidades cometidas pelos Volturi enquanto voltávamos para o Hotel.
Ele parou na porta...
-Então ate amanhã á noite, eu venho te pegar ás nove, ok?
-Tá... E algum traje em especial?
-Ah, não se preocupe, qualquer vestido que você use ficará maravilhoso... – ele deu seu sorriso perfeito.
Eu acenei quando ele foi embora. Entrei no hotel e fui para o quarto, às garotas não tinham chegado... Eu fiquei no computador um tempo, depois na TV e fiquei pensando o que vestiria para a festa, olhei em meu armário e joguei uns vestidos na cama, os analisei, fiquei em duvida entre um tomara-que-caia preto com uma faixa rosa na cintura e um outro roxo escuro de gola alta...
Quando as meninas chegassem perguntaria pra elas qual era o melhor, olhei o horário no despertador, já passava das duas da manhã, eu dei um bocejo involuntário e deitei na cama.
Quando fechei os olhos, ouvi uma agitação no corredor, mas cai no sono antes que elas entrassem no quarto.

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