7 de janeiro de 2013

29. HABILIDADE


 -Então qual a sua história, Bianca? – ele a fitou.
-Você quer que eu mostre á ele? – eu perguntei pra ela. – Acho mais fácil e rápido. – eu sorri, ela me olhou confusa
-Hum... Você ta pensando em mostrar á ele aquela nossa conversa á uns... seis meses atrás? – ela me olhava com descrença. – Você lembra de tudo?
Eu concordei, levantei e me sentei ao lado dele pegando sua mão, ele me observou curioso...
Eu me lembrava de tudo naquele dia - quando falamos sobre nossos segredos -, foi um dia inesquecível tanto quanto a festa á fantasia. Depois que acabei de mostrar tudo, seu rosto se iluminou, animado.
-Sério? Você é realmente uma... Isso é verdade? – ele olhou pra nós
-É sim, acho que deve ser tão diferente como conhecer um vampiro... – ela franziu o cenho – Seria? Não, não mesmo... – e riu de leve.
-Certo! Novamente você me surpreendeu. – ele disse rindo á mim, eu também ri e olhei pra Bia que parecia uma criança admirada pelo ambiente e aposto que pelo Mike também.
-Queria saber se o Joseph e a Anne são tão lindos quanto voc- ela parou - vocês. - eu sabia que ela iria dizer que o Mike era lindo, eu ri discretamente.
-Eu acho melhor você não conhecê-los, pois nem eu, nem o Mike nos alimentamos de... Você sabe. – eu expliquei
-Ah, mesmo assim tenho muita curiosidade, eu vi pela sua mente a Anne, mas e o Joseph, como ele é? – ela inclinou seu tronco pra frente, eu também e peguei sua mão.
Mostrei a primeira vez que o - tinha visto, mas de repente no meio das imagens tive um flash de hoje de manhã, quando a Bia me deu seu amuleto, mas... Eu me via, era como se estivesse em outro corpo.
E lembrei que já havia tido essa sensação antes...
-Tudo bem? – o Mike tocou meu braço e me vi na realidade, a Bia já tinha se afastado e eu ainda estava com as mãos esticadas.
-Hã? – eu passei as mãos no rosto.
-Você me mostrou o Joseph e... sei lá, fico meio aérea, parecia não estar mais aqui. – a Bia me analisava curiosa.
-Eu... vi, eu me vi hoje de manhã, quando agente estava junta. – eu tentava compreender.
Eles me analisavam, eu estava começando a lembrar com mais clareza, era a visão da Bia, como se eu visse pelos olhos dela.
-Isso já aconteceu. – minha voz era um sussurro, mas firme. - Eu era pequena, na minha primeira visita a minha avó Renée, estava no avião com meus pais, a minha mãe me tocou e eu vi... – hesitei e comecei a lembrar do que tinha visto exatamente naquele dia – Quando ela tinha viajado para Itália, antes de mim... – eu olhei pra eles, a Bia curiosa e o Mike preocupado – Vi uma lembrança, uma memória dela. – Bianca se aproximou, se ajoelhando na minha frente.
-Sério? Então... Foi como se você tivesse lido á minha memória? – ela tentava arrumar as palavras certas.
-Ela viu uma memória sua. – Mike interrompeu intrigado, eu concordei.
-Então essa é outra habilidade que você tem? – ela perguntou empolgada.
-Eu não sei, é provável, mas isso acontece de repente, só aconteceu uma vez, duas, com agora. Nunca me esforcei exclusivamente á ela, apenas quando estava com Zafrina, mas... Eu sempre queria aprender mais e mais em como ler mentes, eu achava, acho incrível essa habilidade, além de muito útil.
-Ler mentes é a mesma habilidade que do seu pai, né? – a Bia perguntou se sentando ao meu lado
-Sim, mas nem se compara com a dele. Ele pode ler a mente de mais de uma pessoa ao mesmo tempo e muito mais longe do que eu consigo, sem contar que ver as imagens exige de mim muito mais esforço e para meu pai é normal, natural... Para eu ler é mais forçado e difícil do que quando mostro algo á alguém, é simples e fácil, sem esforço.
-Entendi. E essa sua nova habilidade é mais complicada ainda? – ela perguntou.
-Sim, eu nunca tentei, mas...
-Você quer ver de novo, digo, tentar... – a Bia me olhava animada, eu franzi o cenho, mas concordei. Ela me ofereceu a mão.
-Eu estava pensando... E se eu tentasse com o Mike? Ele é vampiro e talvez seja mais fácil... Não sei. – eu olhei pra ela que ficou mais animada e me virei pra ele, que me olhou surpreso.
-Você acha melhor? – eu concordei e a Bia se ajoelhou no chão ao nosso lado ansiosa.
Ele me ofereceu suas mãos, eu balancei a cabeça negativamente, me aproximando, e levei minhas mãos ao seu rosto. Ele abriu um pouco mais os olhos, talvez por estar muito próxima, vi pela minha visão periférica que a Bia ria, eu fechei os olhos para me concentrar melhor e respirei fundo...
Comecei a ler a mente dele, depois ficou silencioso e a temperatura dele que estava sentindo na palma das mãos foi se espalhando pelo meu corpo, me senti gelada e como um estralo, não sentia mais nada, nem minhas mãos no rosto dele, não sabia se meu coração batia ou se estava respirando, mas não era incômodo, não teria como me incomodar e vieram as imagens... Eram muitos flash ao mesmo tempo, depois foi ficando mais lento e pude ver melhor, mesmo não estando muito nítidas, a minha visão periférica estava meio sem cor e embasada; Eu estava em uma guerra, havia muito sangue nas ruas e corpos de pessoas mortas por toda parte, o som estava muito embaralhado e longínquo, depois estava em uma sala toda aconchegante meio escura, vi uma bela mulher de olhos vermelhos escuros á minha frente, seu rosto provocante e sexy, ela me fitava, encarava o Mike de um jeito estranho, como se fosse atacá-lo ou beijá-lo, a imagem mudou e eu me vi, estava sorrindo, rindo quando estávamos no parque, ele me falou alguma coisa, mas não consegui ouvir...
-Nessie? Renesmee? – o Mike me chamava, eu pisquei e sai do transe.
-Você viu alguma coisa? – a Bia estava meio preocupada.
-Sim, eu estava... - olhei pro Mike – Você estava em uma batalha, depois eu – fechei os olhos e comprimi a mão na face, esfregando a ponta dos dedos na têmpora, estava sentindo uma forte pontada no lado direito da cabeça e estava aumentando – vi uma mulher, acho que era a Meredith, – a respiração do Mike se interrompeu – e depois quando estávamos no parque... – eu abri os olhos.
-Uau... – Bia voltou a se sentar no sofá á nossa frente e esperou uma resposta do Mike.
-Bem... Sobre a guerra – ele me fitou – foi quando eu era humano, não gosto de lembrar, foi no período do Terror, na revolução francesa, logo quando eu cheguei aqui fui obrigado a me alistar, mas não fiquei muito tempo, sofri uma fratura muito grave na perna e me mandaram de volta. Talvez... – ele semicerrou os olhos, pensativo. - meu pai tenha ido para guerra e por esse motivo não tenha o - encontrado.
-Você nunca pensou, nunca tinha pensado nessa possibilidade? – eu perguntei intrigada, ele balançou a cabeça negativamente.
-Eu tento esquecer as coisas que vi, – ele fechou os olhos nervoso – fiquei apenas cinco meses, mas... foi tão horrível e perturbador que...- ele parou e me parecia que não iria falar mais nada.

“Ás vezes acho que minha vida se resume a sofrimento.” 

-Não, não pense assim. – eu o - interrompi, ele me olhou surpreso, mas depois sorriu.
-Desculpe. – ele sussurrou.
-E sobre a mulher? – Bia perguntou
-É bem possível que tenha visto a Meredith, não sei quando ou como você a viu, mas ela foi à única mulher da minha vida.
-Que fofo. – ela disse baixinho
-Mas tem alguma ligação com a revolução? – ele me encarou tentando lembrar.
-Hum... Eu a conheci – ele olhou para varanda. - por acaso, estava saindo de um bar de um velho amigo do meu pai, para perguntar sobre o paradeiro dele, e ela estava entrando. Eu de imediato fiquei fascinado, deslumbrado por ela, nem quis saber por que ela usava óculos escuros no meio da noite, e mesmo depois de ver seus olhos escarlates, não me importei. - ele riu sem humor, Bianca o encarou confusa.
-Como assim? – ela perguntou
-Bem, você logo de cara não acharia que uma pessoa que tem olhos vermelhos seria um vampiro... – ele riu - Tanto de dia quanto á noite usávamos óculos, éramos estranhos, mas apenas isso. Nosso melhor amigo foram os óculos escuros, antes de inventarem as lentes de contato. Se eu fosse sair agora, por exemplo, teria que por lentes. – ela arregalou os olhos...
Eu já sabia que a maioria dos vampiros que se expõem na luz do dia usava lente. Minha mãe usou por muito tempo lentes cor de chocolate por causa dos meus avós Charlie e Renée.
-Está me dizendo que vampiros usam lentes de contato... Para disfarça seus olhos? – ele concordou- Mas e a sua família, Reh? – ela me observou
-Bem, eles possuem olhos dourados e não precisam usar lentes, muita gente acha incomum, mas somos discretos e nunca chamados atenção, mesmo que pareça inevitável. – eu ri de leve.
-Hum... – ela concordou
-Você não acharia estranho se me visse na rua... Meus olhos, minha aparência não te assusta? – ele fez cara de desconfiando.
-Ah, na verdade te achei lindo... Estranhamente lindo. – ele olhou pra mim e riu.
-Só podia ser sua amiga. – eu dei de ombros, a Bia mordeu a ponta da língua no canto da boca, brincando.
Minha cabeça estava latejando um pouco, a pontada do lado direito estava mais fraca, mas agora a dor estava espalhada por toda minha cabeça.
-Reh, você quer tentar comigo, agora? – a Bia me perguntou, eu apoiei minha cabeça nas mãos.
-Está tudo bem? – a Mike me perguntou
-Sim, tudo bem, é só uma dor de cabeça... Desculpa Bia, mas talvez outra hora. Deixa só essa dor passar... – eu sorri, ela torceu a boca desapontada e se sentou ao meu lado passando seus braços ao meu redor.
-Você pode tomar remédios? – ela me perguntou, eu olhei pro Mike, ele me pareceu um pouco assustado.
-Tudo bem, Mike? – eu perguntei rindo.
-Sim, é que é novo pra mim ver um vampiro com dor de cabeça. – ele riu.
-É. – deu uma pontada mais forte – Aí! – o Mike se aproximou de mim rapidamente, eu assenti e respirei fundo - É novo pra mim também, eu não me lembro de ter sentido algum tipo de dor desse jeito, eu já tive dores de cabeça quando estava aprimorando e evoluindo em ler mentes, mas... – a dor estava ficando cada vez mais fraca.
-Foi por causa da habilidade, por você ter tentado, se esforçado, é melhor você realmente deixar de lado... – eu fiquei surpresa, ele me lembrou o Jake ou Edward falando - Pelo menos por um tempo.
Eu olhei pra Bia, ela deu de ombros.
-Por hoje. Tenho certeza que com a pratica vou ficar cada vez melhor e sem dor. – eu respirei aliviada, a dor tinha passado.
Ele respirou fundo... E se levantou.
-Vou pegar água pra você. – antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele já tinha ido.
-Você acha que tem alguma coisa a ver com o colar? – eu perguntei a Bia -Acho que não... – eu respondi minha própria pergunta balançando a cabeça.
-Na verdade não tenho certeza, coincidências são muitas raras, mas não vejo como o colar possa ter te prejudicado. – ela franziu a testa.
-Nada te aconteceu quando sua avó te deu?
-Não, ela me deu no meu aniversario de 13 anos... Eu já entendia muita coisa sobre a magia e não me assustei nem nada, eu confio muito na minha avó. Me lembro de ter tidos muito mais sonhos premonitivos depois que ganhei o colar, mas... Acho que... – ela hesitou – Não sei explicar, quando chegarmos á São Paulo eu posso perguntar á ela.
-Por que não liga?
-Ah, eu gosto de perguntar essas coisas pessoalmente...
O Mike voltou com um copo d’água e me entregou, eu o - virei em menos de três segundos, não tinha percebido que estava com tanta sede.
-Obrigada. - e coloquei o copo na mesinha de centro.
Eu quero explorar essa minha nova habilidade, quero evoluí-la e ver até onde posso chegar mesmo que precise ter mais dores de cabeça.


  
“O importante não é vencer todos os dias, mas lutar sempre.”




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