7 de janeiro de 2013

30. LIMITE DE VIDA






Me levantei, fui tomar um ar na varanda... e voltei.
-Então sobre o que estávamos falando? – Bia perguntou inocentemente.
-Me conte mais sobre a sua religião, você... disse a Nessie que é empata, certo? – o Mike perguntou, o clima estava voltando ao normal.
-Sim, mas não é grande coisa... Ah! – ela pulou do lugar, como se levasse um susto – Você tem alguma habilidade, como a Nes- a Reh? Ela não me contou nada. – ela olhou pra mim, me censurando.
-Sim, posso paralisar qualquer ser vivo. – ele ergueu uma sobrancelha.
-Não use nela! – eu logo disse
-Ah. - ela fez bico.
-É muito... – eu mordi o lábio – estranho, mas não vai adianta eu te explicar, você vai querer saber de qualquer jeito! - ela concordou.
-Vai ser rápido... – ele á fitou se aproximando e tocou sua mão, ela ia abrir a boca, mas parou, estava paralisada.
Seus olhos se moviam rápidos, mas não dava pra saber se estava feliz ou assustada, seu coração e sua respiração estavam normais, mas nenhum músculo se movia.
-Pare. – eu cochichei ao Mike, que conteve um sorriso e a tocou novamente, eu franzi a testa intrigada. – Porque você á tocou? Quando você me mostrou, você... estralou os dedos, não foi?
-Nossa... Que legal!! – a Bia disse empolgada, eu olhei pra ela rindo e depois voltei ao Mike.
-Sim... É que ainda estava testando sem tocar a pessoa, eu já perguntei ao Alec, a Jane e a Anne como posso fazer isso apenas com o olhar. Primeiro estou tentando pelo som... – eu olhei confusa – Como se o meu “poder” fosse transmitido, guiado pelas ondas sonoras e funcionou quando tentei, mas... Acho que nem disso preciso agora.
-Pode paralisar sem tocar? – a Bia entrou na conversa.
-Hum... Não sei, posso tentar? – ele perguntou á ela, eu virei seu braço, fazendo-o olhar pra mim.
-Tente em mim. – eu não queria que a Bia passasse por aquilo de novo.
-Não. Você já se esforçou demais hoje...
-O que uma coisa tem haver com a outra?- eu o - olhei confusa
-Você me disse que ficou assustada, preocupada na primeira vez.
-É, mas eu não sabia o que você iria fazer. – o repreendi – Você sabe que confio em você. – seus olhos ficaram doces, mas depois rígidos.
-Já que você insiste, serei o mais breve possível. – ele se posicionou para me olhar melhor e ficou me encarando, sua expressão séria, concentrada.
Eu ainda conseguia me mexer, mas aos poucos pareciam que meus ossos e músculos estavam atrofiando, e comecei a sentir aquela sensação de incapacidade até ficar paralisada.
Ele sorriu e me tocou, eu pisquei duas vezes e respirei devagar, mas não deixei parecer que estava aliviada.
-Você deveria ter tentando desfazer sem me tocar. – eu disse meio brava
-Não ia te deixar daquele jeito até conseguir, não poderia saber quanto tempo eu demoraria. – ele disse meio preocupado e acariciou minha mão, eu segurei a mão dele.
-Pare de se preocupar comigo, estou bem. – logo depois que falei, vi um flash, estava escuro e embaçado na minha visão periférica como na primeira vez, talvez tivesse visto dois pontos vermelhos na escuridão, mas foi muito rápido.
-Ok. – ele disse, eu não deixei que eles percebessem que tinha visto algo.
-Então, né... Vocês não almoçam, mas to começando a ficar com fome. – ela fez uma careta e riu.
Eu olhei pro relógio da sala, eram mais de meio-dia.
-Nossa, nem vi o tempo passar. – disse
-Hum... Vou ver se tem alguma coisa comestível na cozinha. – Mike se levantou.
-Eu vou com você, te ajudo. – me ofereci.
-Desse jeito, eu também vou. – Bia disse e pegou minha mão.
Nós fomos à cozinha e por sorte as frutas decorativas, porém comestíveis, estavam em cima do balcão.
Ela pegou uma maça, a – lavou, se sentou em um dos banquinhos do balcão e mordeu.
-Nada melhor que comida saudável. – ela disse antes de dar a segunda mordida.
-É, mas você tem que comer mais alguma coisa. Isso não vai te alimentar por muito tempo. – eu contornei a balcão e me aproximei dos armários. – Posso? – eu perguntei ao Mike, ele concordou e abri.
Muitas estavam vazias, na geladeira tinha ovos, um leite vencido e metade de uma peça de queijo; no freezer um pote de sorvete.
-Pra que isso? – eu perguntei, ele se aproximou.
-Sem ser o sorvete, a Anne ou o Joseph que trouxeram, eles ficam zuando comigo. - ele disse rindo - Brincando que quando eu tivesse visitas humanas às alimentasse ou quando eu voltasse a ser humano, mas quase tudo estragou. – ele pegou o leite e jogou na lixeira – E quem diria, eu realmente tive uma visita humana. – e deu aquele sorriso.
-Mas e o sorvete? – a Bia perguntou jogando o miolo da maça fora.
-Era meu alimento preferido... E quando abro a geladeira e vejo alguma comida, acho que me faz sentir melhor. “Talvez mais humano”- ele deu de ombros.
-Você pode fazer uma omelete de queijo. – eu disse á ela. – Mesmo me parecendo pouca coisa.
-É pode ser. – ela concordou
-Estou me sentindo culpado, vamos sair para vocês comerem ou vamos comprar alguma coisa? – ele nos olhou, eu o ouvi disser vocês, mas não quis contradizê-lo.
-Não se incomode, apesar... “Que eu adoraria deixá-los sozinhos...” – ela deu um sorriso.
-Bia! – eu a censurei, ela riu – Você vai ficar com fome, nós vamos comprar alguma coisa pra você.
-Não precisa...
-Tem alguma padaria por perto? – perguntei ao Mike, ignorando o que ela havia dito.
-Sim, pode deixa que eu vou, vocês podem ficar aqui. – ele foi pra sala, nós o seguimos.
-Ok... – eu disse enquanto ele saia
Ficamos na sala, liguei a TV e estava passando um programa que a Bia gostava, eu fiquei observando o amuleto dela, que estava alaranjado, vendo todos os detalhes e contornos...
-Você está preocupada? – ela me perguntou com os olhos na TV.
-Um pouco... É algo novo, sei lá... Mas estava pensando nos problemas na Europa, quero dizer, nos problemas causados pelos vampiros que estão aqui na Europa, mas não sei quais são esses problemas ou quem está os causando. – eu guardei o colar.
-Do que está falando? – ela olhou pra mim, duvidosa.
-Eu não te contei? Eu liguei pro Jake sábado e ele me disse que tinha algo suspeito acontecendo, alguma encrenca causada por um vampiro. – ela ficou pensativa.
-Vocês não sabem o que é?
-Não... - eu disse preocupada.
Em menos de quinze minutos o Mike voltou com duas sacolas, nada simples, na mão.
-Aqui está! – ele entregou a ela.
-Oba! Vamos pra cozinha... Nossa, Mike, não precisa comprar tanta coisa.
-Não sabia do que gostava ou do que queria, então... trouxe um pouco de tudo.
Procurei talheres e pratos pelos armários, coloquei-os no balcão enquanto a Bia retirava das sacolas o que ele tinha comprado; de croissants á creme-brulees.
-O que foi? – perguntei vendo que a Bia queria rir
-Ah, nada... Apenas que nunca imaginaria em meus sonhos mais loucos, que algum dia na minha vida, iria comer na casa de um vampiro... Para ser sincera, eu seria a comida de vocês... – nós concordamos rindo de seu humor negro.
Ela terminou de colocar tudo e pegou primeiro um croissant, que estava ainda quente, logo deu uma grande mordida... Olhou pra gente e se virou para a bancada. O cheiro de comida me fez salivar.
-Desse jeito fico com vergonha, só eu comendo... Reh, você não vai comer? – ela se virou pra gente
-Não estou com fome. – e realmente não estou, apesar da minha boca estar salivando... Isso é estranho.
Ela revirou os olhos.
-Ah, é muito difícil imaginar que não se precisa comer, dormir... – ela deu mais outra mordida, eu olhei pro Mike, ele estava franzindo o cenho observando a Bia.
-Posso te pergunta uma coisa? – ele perguntou á ela.
-Claro!
-Você se transformaria... Você seria uma vampira? – ela deu outra mordida e mastigou demoradamente.
-Não. - ela disse firme. Eu fiquei quieta com medo do que ela diria á seguir – Nada contra vocês, acho incrível ter super-velocidade, super-força, habilidades especiais e tenho muita curiosidade pra saber qual seria a minha ou se teria uma, mas... – ela engoliu em seco - Tem água?
Mike se levantou rapidamente, pegou um copo, um jarro com água e entregou a Bia.
-Obrigada. – ela agradeceu
Tive a impressão que ele teria usado sua velocidade sobre-humana para forçar a idéia dos benefícios de ser vampiro, ela deu dois goles e continuou...
-Eu acredito em reencarnação, acredito muito no ciclo natural da vida e se eu me tornasse, se fosse uma imortal é como se... eu sobrevivesse as custas dos meus sucessores, meus filhos, netos... Suponho que vampiras não possam ter filhos, certo? – ela olhou pra mim, eu não tive a mínima vontade de abrir a boca, então concordei com a cabeça. –Então, além disso, é viver ás custas da vida de outros. – tanto eu quanto o Mike ficamos pesarosos, triste e á observando – Desculpe... Reh, eu te adoro muito, você além de perfeita é uma ótima amiga, é gentil, companheira... E você Mike – ela sorriu – apesar de seu passado turbulento, quis mudar e mudou. É apenas uma realidade, quero dizer, o meu modo de ver as coisas. – ela deixou seu lanche de lado e foi na nossa direção atrás do balcão e passou os braços por cima de nossos ombros e me deu um beijo no rosto, ela teria dado um no Mike também, mas suponho que não quis testar o autocontrole dele. – É triste, mas todos nós -humanos- temos seu limite de vida, uma hora temos que partir. – ela sorriu apesar de estar falando de sua morte.
Nós ficamos em silêncio, ela suspirou e voltou ao seu lugar, para terminar de comer, depois voltamos para sala.
-Hum... Posso ver o resto da casa? – ela perguntou ao Mike esperançosa.
-Claro. – ele sorriu.
Na parte direita da sala tinha um corredor, o primeiro quarto era enorme, tinha um papel de parede beje com vários contornos, a cama era bem clássica com edredons de seda dourada e um candelabro no centro do teto.
-Nossa... De quem é? – a Bia perguntou entrando no quarto.
-Da Anne? – eu perguntei, ele concordou.
-Aí... E eu espalhando meu cheiro pelo quarto dela. – ela disse saindo, como se fosse uma coisa ruim.
-Você cheira muito bem... Não é, Mike? – eu dei uma cotovelada nele de leve.
-Sim, muito bom. – ele sorriu envergonhado, ela olhou pelo canto do olho para nós.
Continuamos e entramos no próximo quarto, do outro lado do corredor, era simples e aconchegante, uma cama de casal com cobertores negros, computador, estante de livros e as paredes eram escuras num marrom e verde musgo.
-De quem? – eu perguntei em dúvida se seria do Mike ou do Joseph.
-Joseph. – ele respondeu.
Depois fomos a outro quarto que era espaçoso, tinha a maior janela e logo abaixo dela estava uma cama de casal, as paredes eram azul escuro, com verde perto do chão como se fossem plantas e pontos de luz no teto, eram estrelas ao lado de uma grande Lua cheia perfeitamente detalhada, um notebook na cama, um sofazinho estofado junto á parede, uma estante com CDs e livros, e um rádio grande e moderno ao lado da cama.
-Que lindo! – eu fiquei observando aquele teto estrelado. - Quem fez?
-Eu... – ele respondeu - Fico muito tempo sem ter o que fazer, então um dia resolvi pintar o teto. – ele deu de ombros.
-Você já foi pintor? – a Bia perguntou – Posso? – ela perguntou se podia se sentar na cama, ele assentiu.
-Eu já fiz alguns quadros, mas... - ele riu – é apenas um hobby.
Nós saímos do quarto e vimos mais dois banheiros e uma salinha com uma cama no fim do corredor. Voltamos para sala e fomos para a cozinha que já conhecíamos e a sala de jantar que não me trouxe recordações agradáveis...
O Mike abriu a porta, a Bia olhou curiosa, tinha um cheiro forte de produto de limpeza, senti uma coisa revirar meu estômago quando pensei que o Mike ou alguém teria limpado para retirar o sangue no local. Ele fechou a porta.
-E depois da sala de jantar, tem um jardim. – ele ia pra sala de estar.
-Ah, eu quero ver. Eu amo plantas, já deveria saber. – ela disse num tom de brincadeira, ele olhou pra mim receoso, eu sorri concordando.
A sala de jantar tinha uma grande mesa de metal no centro, um belíssimo candelabro bronze, armários e quadros. Ao passar por ela senti uma energia pesada, negativa, apesar de ter nada de anormal lá, não naquele momento, nem quis pensar na quantidade de pessoas que foram mortas ali, e senti um arrepio.
Ele abriu a porta que dava para uma pequena varanda, era branca e vazada com vidro. O jardim tinha rosas brancas, vermelhas, amarelas e uma mistura de amarelo e rosa, eu me aproximei dela e a cheirei, era muito familiar com á de outras rosas, mas me fez lembrar de casa, de quando era pequena e corria pela floresta de Forks com o Jake, que saudade dele...  Eu fechei os olhos e inspirei mais uma vez.
Lá também tinha lírios, petúnias, tulipas e outras plantas, uma mesinha e três cadeiras.
A Bia correu para as plantas mais exóticas e as observou.
-Que lindas... – ela disse
-Cuidado com os espinhos, não queremos ver sangue aqui, hein? – eu brinquei, ela mostrou a língua.
O Mike pegou uma rosa cor-de-rosa e me entregou sorrindo... Será que um dia ele pararia de ser tão gentil?
Nos sentamos nas cadeira e a Bia se virou para nós.
-Sabia que rosas cor-de-rosa indicam amizade, carinho, doçura e... charme. – ela disse olhando para minha rosa. – Minha rosa... – ela procurou entre as que estavam a sua frente – Seria á amarela, elas indicam... satisfação, alegria... hum... selam uma amizade e representam felicidade. Faz tempo que não leio sobre isso... – ela sorriu, eu e o Mike ficamos surpresos e curiosos sobre o que mais a Bianca poderia saber, sobre coisas que não tínhamos idéia de que poderia haver um significado.




“A única certeza que o ser - humano pode ter é de que
 um dia irá morrer.”



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