15 de outubro de 2014

34. CASA

As horas passaram devagar até chegar á noite... 
Não que eu esteja enjoada de Paris, mas a saudade é tão grande que não me deixa pensar em outra coisa a não ser que esses próximos dias passem.

Eu coloquei uma calça jeans, uma regata e sai, peguei o metro e andei presunçosamente. Não estava depressiva, mas me sentia meio cansada. Era estranho, poderia jurar que me sentia mais humana.
Cheguei no apartamento dele, respirei fundo e quando ia bater, ele a – abriu, sorrindo.
-Tudo bem? – ele perguntou, me analisando.
-Uhum... – eu concordei
Nós entramos, não tinha ninguém e fazia um tempo que haviam saído, me sentei no sofá me aconchegando, calada e pensativa.
-Você está realmente bem? – ele se sentou ao meu lado e pegou meu rosto -Você me parece triste.
-Não sei o que é... Acho que foi a ida da Bianca. – eu mordi o lábio, ele passou o braço pela minha cintura.
-Você tem muito amigos, nunca ficará só! – eu olhei para ele, seus olhos estavam quase totalmente âmbar, me fazendo sentir em casa.
-Sim... – eu me ajeitei nos braços dele e encostei minha cabeça em seu peito, tirei meus sapatos e coloquei minhas pernas no sofá, ele passou seus braços ao meu redor, como se quisesse me aquecer mesmo ele sendo gelado, não durou muito e logo eu estava na mesma temperatura que ele... Estava confortável e fiquei ali um tempo de olhos fechados tentando reaver meu ânimo.
Quando abri meus olhos vi o relógio a minha frente: Eram onze e dez. Eu me levantei rapidamente, e percebi que tinha dormido...
Ouvi um riso e me virei para ele.
-Você cochilou.
-Ai, desculpa!
-Nada, eu adorei vê-la dormir.
-Certo, arruinei nossa noite! – eu me sentei arrumando meu cabelo.
-A noite ainda não acabou. Venha, vamos sair! – ele se levantou e me puxou suavemente.
Eu não sabia para onde ele estaria me levando, mas não liguei, seria algum lugar divertido.
Tinha uma grande placa luminosa escrita Le Red Light na frente, era o lugar onde as meninas tinham ido.
-Eu nem vim com a roupa certa. - eu argumentei quando paramos.
Ele saiu do carro, deu a volta e abriu a minha porta oferecendo á mão.
-Qualquer roupa que você estiver, estará perfeita. – eu ri constrangida.
Estava cheio de gente apesar de ser grande, estava tocando uma música eletrônica, varias luzes rodando e lasers. Bartenders e dançarinas se apresentavam em um pequeno palco do lado leste do salão.
- Você já veio aqui? – ele me perguntou, eu peguei sua mão enquanto andávamos.
-Não, mas as meninas vieram aqui segunda... E você? – eu tentava não esbarrar nas pessoas, mas era impossível, o cheiro de suor, perfumes, bebidas e até mesmo de drogas me deixaram meio enjoada, sem contar com o cheiro humano que me fazia salivar.
-Sim. Eu, a Anne, o Joseph e às vezes com a Mery ficamos aqui, é o maior clube de Paris.
-Vem para caçar? – eu parei de respirar pelo menos até passarmos pela multidão.
-Na maioria das vezes sim. – ele me levava para um ambiente que era mais alto, como um segundo andar, com poucas pessoas e tinha grandes janelas – Precisamos de ar fresco, não é? – nós paramos e sentamos em um sofá estofado vermelho. – Você está bem? Me parece pálida...
-Sim, é que... – eu coloquei a mão da barriga – acho que preciso caçar.
-Tem um banquete e tanto aqui. – ele apontou para as pessoas, eu o censurei, fazendo-o rir. – E pretende achar animais aonde?
-Eu não sei, não estava planejando isso. Eu aguento/aguentava ficar uma semana sem comer, duas, com um pouco mais de esforço, mas nem deu duas semanas ainda.
-Hum... Acho que foi uma péssima idéia ter te trazido para cá. Desculpe.
-Não, tudo bem, é frescura minha... Mas se não tiver problema eu preferiria me alimentar... Você poderia me dá uma bolsa? Eu posso ir a uma fazenda, mas como explicar que um cavalo ou vaca sumiu, já que não é costume de animas selvagem se alimentaram pela região? – ele concordou.
-Claro que te dou. Quer voltar?
-Acabamos de chegar, vamos aproveitar. – eu tentei sorrir
-Ta, mas vamos procurar um lugar com menos gente.
Havia uma parte separada ao ar livre, a música era um pop rock, ficamos lá ate á uma hora da manhã, depois voltamos para a casa dele.
Nem o Joseph ou as Sullivan tinham voltado.
Ele me deu uma bolsa de sangue e eu tomei com vontade apesar de não ter a mesma satisfação do fresco, por enquanto bastaria.
Eu não me incomodei com o horário, apenas teria que voltar antes do Sol nascer... Até eles chegarem...
A Anne e o Joseph me cumprimentaram gentilmente, a Meredith ficou me olhando feio.
-Bem, agora que o clima voltou a ficar negativo, vou indo. – eu disse ao Mike rindo, ele olhou para Meredith, que mudou sua feição ficando indiferente e pacifica.
-Não, fique mais um pouco, ninguém quer que vá embora. – ele disse.

“Ah, eu quero! Não sei se está lendo minha mente, mas pare de tentar tirar o Mike de mim, volte para o seu lugar, volte para os Cullen. Não se meta em meus planos!“ – a voz mental dela era severa.

-Não se preocupe, voltarei. – eu me aproximei dela, a encarando – E para sua informação, não quero tirar o Mike de você, já tenho quem me ame e nunca o deixarei ir embora. Se você realmente o amasse ainda o - teria. – ela rosnou, eu continuei olhando para seus olhos sangue, Joseph se pôs ao lado dela, o Mike do meu, a Anne só nos observava, esperando a hora que tivesse que interferir.
-Se você meter o nariz onde não é chamada, vai se arrepender, não seguirei as ordens de Aro, não ligarei se machucar a princesa dos Cullen, a esperada de Aro! – ela rosnou novamente se abaixando.
-Apenas tente, tente me atingir! – eu a provoquei, ela se agachou e congelou.
-Pare com isso Meredith, não seja ridícula! – o Mike disse e a tocou, ela olhou incrédula para ele.
-Como você...? Por que você está do lado dela? Nós se conhecemos á tantos anos e ela chega de repente como se pudesse fazer o que quiser...
-Ela é uma ótima pessoa, você está agindo errado e sabe disso!  Ela é minha inquilina, minha amiga, eu gosto de você, mas não é por isso que ficarei do seu lado. – ela suspirou, tentando se acalmar. – Não sei por que você não gosta dela, ela não fez nada á você! – ela olhou pra mim.
-Certo, seria muita burrice eu me prejudicar por sua causa ou sujar minhas mãos como seu sangue! – ela cuspia as palavras, um grunhido feroz saiu da minha garganta sem eu perceber, suspirei e olhei para fora, eu não poderia perder o controle. Se eu atacasse um dos Volturi, daria o motivo que Aro tanto esperava para declarar guerra contra minha família.
-Certo, vou embora chega de discutir com pessoas que não devem entender. Já está tarde. – o Mike concordou.
-Desculpe minha irmã, Nessie – Anne passou o braço pela cintura de Meredith – Eu vou conversar com ela. – ela sorriu envergonhada, eu assenti.
Eu e o Mike fomos embora, cheguei em Paris quase as três da manhã, fomos para a parte de traz do hotel .
-Desculpe... – ele sussurrou
-Ah, não foi nada, você sempre me avisou sobre ela. Ela está com ciúmes, tem medo de te perder. – eu não estava acreditando que estava dizendo que ela tinha motivo para aquilo.
-Certo, amanhã venho te pegar. – ele beijou minha mão.
Peguei impulso e pulei para a varanda do meu quarto, a janela estava aberta. Me troquei e fui para a cama.
Tudo tinha haver com paciência...
Paciência com a Meredith; na espera dos três dias que agora são dois; em ter informações de onde estão os vampiros e força de vontade em aguentar a saudade que queimava meu peito.

Quando parei de pensar no tempo, esses dois dias passaram animados e rápidos.
Eu e o Mike fomos ao Palácio de Versalhes de novo e ele me mostrou sua antiga casa, não vi mais a Meredith, eles me disseram que ela estava viajando, mas acho que apenas estava me evitando.
Hoje é sábado e vamos embora às cinco da tarde, o Mike vai pegar outro avião meio hora depois do meu, e eu vou ficar esperando no aeroporto.
Ao desembarcar em Port Angeles, senti um frio na barriga como no começo das férias. Esperei impacientemente o Mike, quando ele chegou não perdi tempo, peguei a mão dele e fomos á um táxi, eu poderia ligar para minha família, mas preferi não incomodar.
-Você está ansiosa, hein? – o Mike disse no taxi
-Muito!
A viagem de táxi durou quase uma hora, eu deveria ter ido correndo, teria chegado mais rápido.
O táxi nos deixou á 10 metros de casa, tiramos as malas e continuamos, eu estava com uma grande mala vermelha e o Mike com uma pequena.
A primeira pessoa que vi foi minha avó, que estava regando as plantas da frente de sua casa.
-Vovó! – eu gritei e deixei minha mala pra trás, ela se virou no exato momento que a abracei. Não estava acreditando que estava em casa, comecei a chorar em pensar ver o resto da família. – Ah. – eu limpei meu rosto – Este é Mike, um vampiro da França, ele tem uma história muito interessante.
Ela não me olhou surpresa, meu pai já deveria ter avisado.
-Qualquer amigo de minha neta, também é nosso convidado.  – ela sorriu amorosa, como sempre.
-Prazer em conhecê-la. – ele disse e pegou minha mala.
Nós entramos... Meu coração não poderia bater mais rápido.
-Nessie!! – tia Alice desceu as escadas, saltando os últimos 10 degraus e pulou em mim, minha lagrimas molharam sua delicada blusa rosa - bebê, eu olhei para ela, seus grandes olhos dourados irrita-dos.
-Vamos ver... – ela parou e olhou para o Mike – É ele? – ela me perguntou, eu concordei
-Michael Henry... – ele se aproximou, pegou a mão dela e a beijou. - Prazer. – ele disse cortês.
Jasper, Emmet e Rosálie apareceram na sala, sorrindo, mais lágrimas desceram pelo meu rosto.
-Oi, gente! – eu disse e abracei fortemente cada um, logo depois eles analisaram o Mike, ele assentiu.
-Bem, fiquem conversando que já volto, vou procurar meus pais! – eu sai em disparada pela porta dos fundos.
Eu dançava entre as árvores, rodopiando, feliz por estar em casa até sentir o delicioso aroma de meus pais, indo em sua direção, eles arregalaram os olhos e sorriram, eu corri chorando e abracei os dois.
-Me digam que não estou sonhando! – eu arfei
-Não, amor, não está! Se eu pudesse dormir, certamente acharia que isto é um sonho. – minha mãe disse contra meu cabelo.
Meu pai inspirou profundamente...
-Bem vinda de volta, princesa. – eles se afastaram, aquelas faces perfeitas, tão conhecidas, meus pais...
Minha mãe limpou minhas lágrimas.
-Jake vai achar que está machucada de tanto chorar. – ela sorriu, eu ri com mais lágrimas contornando meu rosto, respirei fundo, respirando minha floresta, e me acalmei.
-Onde ele esta?
-Em casa, estávamos indo para casa de seu avô te esperar. – meu pai respondeu.
-Certo, vou vê-lo. – e corri para minha casa.
A porta estava fechada, senti o cheiro das margarinas e petúnias, me lembrando da Bia, e do rastro de meus pais.
Entrei em casa, minha aconchegante casa, me aproximei da estante de livros, peguei um aleatoriamente: O Segredo. Abri e li um trecho:

“Basicamente, a lei da atração diz que semelhante atrai semelhante. Mas falando a nível mental, nosso trabalho como humanos é nos agarrar naquilo que realmente desejamos e ter isso bem claro em nossa mente. E a partir daí, nós começamos a nos envolver com uma das leis mais poderosas do universo, que é a tal da lei da atração.”

Guardei o livro, fechei os olhos e pensei no Jake. Logo senti aquele cheiro forte e amadeirado, o melhor perfume que existia.
-Nessie? – a voz dele chamou meu nome, eu ri e me virei.
Ele estava parado ao lado do sofá, surpreso. Eu corri e o agarrei, prendendo minhas pernas ao redor dele, ele me abraçou e enfiou o rosto em meu ombro.
Minhas lágrimas só tinham parado cinco minutos, estava novamente em prantos.
Não falamos nada, apenas sentindo nossa temperatura, nosso cheiro, a textura de nossas peles, eu suspirei e me afastei pegando seu rosto em minhas mãos.
-Finalmente cheguei... – eu sussurrei enquanto ele limpava meu rosto.
-Sim... – seus olhos penetravam minha alma, aqueles pequenos olhos negros me analisavam como se fosse a primeira vez que me via.
Eu encostei meu nariz com o dele e fechei os olhos, sentindo sua respiração quente em minha pele, abri lentamente a boca e beijei sua maça do rosto, o canto da boca, sua boca.
O gosto, a intensidade, a temperatura eram as mesmas, não havia lugar melhor para se estar do que ali com ele, fazendo a coisa que mais amava: o beijando.
Eu agarrei o cabelo dele, que estava mais comprido, ele pegou meu rosto e comprimiu nossos corpos, ele andou e esbarrou no sofá, caímos em cima dele. Eu desprendi minhas pernas de seu quadril e me encaixei em seu corpo.
Ele apertava delicadamente meu rosto, minha cintura, minha perna. Eu senti um incômodo pelos meus colares e tirei meu relicário, pensei em tirar o amuleto, mas não tive coragem então o passei para minhas costas.
Ele me apertou ainda mais, se eu não estivesse na mesma temperatura que ele, estava mais quente.
Nós estávamos famintos de nossa sede particular, mas não sei se seria uma boa idéia naquele momento, foi quando lembrei da minha família com o Mike. E me desgrudei com dificuldade dele.
-Precisamos ir! – eu voltei á beijá-lo.
-Por quê? – ele disse meio sem fôlego.
-Você sabe sobre o Mike?- perguntei rápido, ele desacelerou.
-Quem? – ele finalmente parou e ficou me olhando nossos narizes se tocavam.
-Meu pai não contou pra você, sobre ele?
-Hum... acho que... não. – ele sussurrou
-Ou deve ter falado e você não prestou atenção, né?! – eu brinquei – Ta, é um vampiro que encontrei na França, ele é tipo vegetariano, ficamos muito amigos...
-Sério? – ele arregalou os olhos, eu tentei me afastar, mas ele me puxou de novo.
-Jake! – eu o censurei, ele riu e me deixou levantar. – Queria muito que você o - conhecesse. – eu peguei sua mão. Ele acariciou meu rosto.
-Qualquer coisa que me pedir... Mesmo que seja para conhecer um vampiro. - nós se levantamos - Mas vamos terminar o que começamos hoje à noite... – eu concordei e saímos abraçados.


 “A paciência é uma virtude rara nos humanos, mas para nós imortais é do que mais precisamos.”

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