Eu tinha tomado um banho frio – se estivesse realmente frio – para me acalmar. Não fomos à fazenda, Alice preferiu a floresta próxima.
Nós corremos e encontramos um cavalo sozinho. Eu o agarrei e mordi...
O sangue daquele animal me aqueceu tão rapidamente que quase fiquei tonta, era a fome. Meu estomago aos pouco ficava mais leve e eu me sentia melhor. Quando acabei, me espreguicei, estava ótima.
-Melhor? – Alice zombou
-Sim. – respirei fundo
Aquele cheiro da terra, das plantas, das flores até mesmo do sangue em meu rosto me fazia melhor. Alice me entregou um pano, eu limpei a boca.
- E agora? – eu perguntei para Alice – Como vou encarar a Bianca, muito menos o Léo... – Alice acariciou minha mão
- Eles são seus amigos, não são?
-Sim.
- Então eles vão entender. Volte para casa e converse com a Bianca, ela tem uma cabeça muito boa e não vai te cobrar nada. - Alice falava com uma segurança que desconfiei. Ela já teria visto alguma coisa?
-Ok.
Nós voltamos para á republica, mas Alice não entrou.
Eu subi e abri a porta desejando que estivéssemos sozinhas. Pude ouvir um coração batendo, aquele cheiro de margaridas e petúnias vindo do quarto, só estava ela em casa.
Seu coração batia devagar, mais devagar e estava baixando o ritmo, o som muito fraco...
Eu corri para o quarto.
-BIANCA! – gritei assustada.
Ela estava em posição de lótus no meio do quarto entre nossas camas, os olhos fechados e a coluna ereta. Estava meditando.
-Você voltou... – ela sussurrava calma, ainda de olhos fechados.
-Eu... Se estiver atrapalhando, volto depois. – e já ia sair do quarto.
-Não... – ela se levantou – Vamos conversar.
Eu me sentei na cama receosa.
O que iria falar pra ela? Como vou explicar as coisas que eu disse ontem?
-O que aconteceu ontem? Você estava tão estranha. – ela estava de pé, perto do computador de costas.
- Eu... – como eu queria dizer pra ela todos meus problemas, dizer que sou meio-vampira, que tenho sede de sangue, que é melhor ela ficar longe de mim. Ela me interrompeu...
-Você vai embora? – ela se virou
Eu engoli seco, eu não queria ir embora.
-Não. – sussurrei, sem certeza.
Bianca veio na minha direção e me abraçou. Eu passei meus braços em volta dela.
- Eu achei que você... – ela hesitou – Eu queria te contar uma coisa. – ela estava tão receosa quanto eu. – Você sabe como é guardar um segredo e não poder contar pra ninguém com medo da reação delas?
-Sei exatamente do que você está falando, se eu contasse o meu... Além de você ter medo de mim, eu estaria te colocando em perigo.
Ela pegou minha mão e apertou.
-Eu confio em você.
-E eu confio em você. – sussurrei.
Ambas com segredos, ambas querendo contá-los para a melhor amiga... Mas eu deveria?
- Reh... – ela respirou fundo. – Eu sou uma... – hesitou – bruxa.
Eu a encarei incrédula.
-Uma... O que? Bia, por favor! Sem gracinhas, achei que você estivesse falando sério.
Eu não estava entendendo seu rosto estava sereno, ela não estava brincando?
-Eu venho de uma família de tradições... Esse dom às vezes pula uma geração como a minha. Minha avó também praticava magia, mas minha mãe não ou também quando uma pessoa pratica e reencarna na mesma família... – ela estava com as mãos juntas, no colo.
-Você está me dizendo que pratica bruxaria?
Impossível! Essas coisas realmente existem?
A Bianca sempre foi um pouco fora do comum, mas ser uma bruxa?!
Ela esconde algum caldeirão ou uma vassoura que voa por aí?
-Como na religião wicca, existe três classes: Iniciante, Bruxo e Sacerdote, mas para os “verdadeiros bruxos” ou os de sangue, é diferença... Por exemplo, se alguém faz um feitiço ou simpatia – ela falava seriamente, a interrompi
-Você faz feitiços? – eu estava incrédula
Ela suspirou tristemente.
-Sim... Mas é muito perigoso. Como estava dizendo... Se alguém fizer uma simpatia ou feitiço demora entre uma semana ou mais de um mês. Mas para nos “bruxos de sangue” ocorre entre dois dias á menos de uma semana... Conheci apenas duas pessoas como eu, em que á família praticava magia, chamada bruxaria hereditária.
Eu olhava para ela com a boca meio aberta, não acredito que existe outro mundo, um mundo além dos lobos ( transmorfos), dos vampiros e dos filhos da lua – verdadeiros lobisomens que se transformam na lua cheia.
-Você está me entendendo? – ela olhava pra mim serena
-Eu acho que sim... Mas você vive normalmente, não tem caldeirão, vassoura que voa, nem – eu passei minha mão em seu nariz – uma verruga no nariz? – ela riu
-Não. É uma coisa simples, eu apenas acredito nos cosmos, na magia da natureza, na Deusa Mãe e no Deus Cornifero, em como a vida é linda, perfeita. –ela falava admirada. – Tudo que sei, aprendi com minha vó, ela me colocou em um culto, mas eu estava muito ocupada com a escola e parei. – eu olhei pra ela assustada
-Culto?
- Não se assuste, não é nada obscuro... É um lugar onde wiccanos – pessoas que cultuam a religião wicca – se reúnem, fazem preces, oram, entre outras coisas. Nós cultivamos a paz e o bem... – ela sorriu
- Uau... – eu suspirei
Existe realmente outro mundo...
-Eu não sei direito o que dizer... Mas porque você tinha tanto medo de me contar?
-Bem... Além de que ninguém iria acreditar, eu não posso contar pra ninguém, apenas para pessoas próximas, de confiança. Tem uma coisa – ela passou a mão no busto. – que pertence a minha família, que passou de geração em geração. – ela tirou de dentro da blusa um colar, parecendo mais um amuleto, mais ou menos de cinco centímetros, oval, com uma grande pedra verde, uma pequenina pedra preta – parecendo ônix - em cima e uma branca – parecendo um brilhante - em baixo.
- O que é isso? – eu nunca tinha visto isso com ela antes.
- Chamasse Phylacterium ex Animus... Minha tataravó foi escolhida para “protegê-lo”, que passou pra minha avó e para mim.
-Amuleto da Alma? – eu perguntei traduzindo o latim, ela se surpreendeu
-Você sabe latim?
-Meu avô me ensinou. Mas então, esse colar é precioso?
- Sim... Se cair nas mãos de pessoas ruins, com más intenções ele pode... – ela parou e mudou o humor – Eu na verdade, não sei o que ele faz... – ela riu – Mas minha vó disse pra tomar muito cuidado com ele.
-Hum... Que incrível. Mas porque eu nunca te vi com ele?
- É uma simpatia, apenas as pessoas que realmente o querem podem vê-lo, é simples.
Eu passei a mão no colar, a pedra lisa, esculpida... e ele mudou de cor diante dos meus olhos, para azul. Eu tirei a mão assustada.
- O que foi isso? – e voltou a ficar verde.
-Ele absorveu sua energia, á canalizou. – ela guardou o colar. – Não se preocupe não te fez mal nenhum, apenas mostrou como está o seu humor ou a sua energia no momento... – ela sorriu feliz e me abraçou – Eu sabia que podia confiar com você!
Meu humor ficou um pouco negro, será que deveria contar a verdade a ela... Mas se eu contar, não terá problemas... Pois ela também tem um segredo, são como os Quileutes, ambos os vampiros quanto os lobisomens guardam seus segredos, como um pacto.
-Bia... – eu falava baixo – Tenho que te contar uma coisa. – ela pegou minha mão
-Você tem certeza? – ela não sabia o que era, mas me entendia.
-Tenho sim... Agora é a minha vez de contar meu segredo.
O silêncio passou rapidamente pelo quarto.
-Eu sou meio-humana e meio-vampira. – quando olhei em seus olhos não vi medo, ela me olhava desconfiada.
- Reh, para com isso! Eu não estava brincando quando falei sobre mim e minha família, é sério. Não precisa brincar comigo... – ela ria, eu continuei séria
-Não é mentira. – eu peguei seu porta-incenso de ferro fundido. – Posso? – ela concordou com a cabeça curiosa.
E eu o dobrei ate o mínimo possível.
-Tenho força sobre-humana. – e atravessei o quarto em meio segundo – Velocidade sobre-humana. E... O pior... tenho sede de coisas humanas. – ela se afastou um pouco
-Você está falando sério? Sério mesmo? – ela balançava a cabeça incrédula
Eu concordei.
-Você bebe sangue? – eu concordei com a cabeça novamente e me sentei no pé da cama
- Você não chega perto da igreja, de crucifixo, alho e água benta?- eu ri.
- Não, nada disso me afeta, é tudo mito...
-E o sol, ele não te afeta, certo? Porque eu já te vi na luz.
-Não, ele não faz nada comigo, mas com a minha família - ela me interrompeu
-Su-Sua família?- ela gaguejou
- Sim... Eles são vampiros. – em um segundo peguei meu fichário, o abri e mostrei a foto em que estavam todos. Seus olhos pararam em Jacob.
-Seu namorado, também é?
-Não, ele é um... – eu posso dizer a verdade, falar sobre os Quileutes? -Bianca me prometa uma coisa. – ela olhou em meus olhos – Não conte para ninguém... Eu sou uma idiota contando isso pra você, pois além de te colocar em perigoso, posso colocar toda minha família também.
Ela sorriu.
- Você não conta o meu e eu não conto o seu. – ela piscou e a abracei. Ela recuou. – Você não está com sede agora, está? – brincou
Eu a empurrei de leve, ela riu.
Seus olhos se abriram, ela deveria ter lembrado de ontem a noite.
-Por isso... Por isso, que você estava tão estranha ontem. Você estava com sede, não é?
-Sim... Mas eu não mato humanos, apenas animais. – a informei
-Hum... Que bom! – ela sorriu. - Mas me conta, qual a história da sua família, a sua história? – ela cruzou as pernas na cama e se apoiou na parede.
-É um historia longa, mas não me canso de contar. Vou tentar simplificar:
Eu tenho quatro tios: Jasper, Rosálie, Alice, que você conhece – Bianca arregalou os olhos e me interrompeu.
-A- Alice é uma vampira? – ela estava fascinada
-Sim. – eu falei orgulhosa. - Mas continuando... e meu tio Emmet, tenho dois avós, Esme e Carlisle, meu pai se chama Edward e minha mãe Isabella ou Bella... Meu avô criou primeiro meu pai. – ela me interrompeu de novo.
-Como se cria um vampiro?
-Bem... É só morder e não matar o humano, claro.
-Então se você me morder... – dessa vez eu a interrompi.
-Não, eu não tenho veneno... Posso terminar? – eu ri, ela concordou com a cabeça. – Depois Carlisle criou Esme, Rosálie e Emmet, minha tia Alice e meu Tio Jasper, encontraram nossa família depois... Há 20 anos meu pai encontrou minha mãe, ainda humana, eles se apaixonaram e depois de muita confusão – eu ri - eles se casaram e eu fui... concebida. – fiquei envergonhada – Quando minha mãe ainda era humana, eu já tinha noção do quanto á machucava, dentro dela. – Bianca estava de boca aberta, parecia que estava vendo um filme fascinante – Quando nasci, meu pai teve que transformá-la em uma de nós. Bem... Como sou meio-vampira, eu posso me alimentar de comida humana tanto quanto de sangue e não brilho no sol. – ela ia falar alguma coisa, mas a impedi – Minha família brilha como... Vários diamantes na pele, como um predador chamando a presa. - Bianca fechou a boca. – Mas tenho a força e agilidade de qualquer vampiro e também tenho habilidades incomuns.
-Mais habilidades?
-Sim, posso mostrar as pessoas o que vi ou o que quero ver. – eu a toquei e mostrei a primeira vez que nos vimos antes mesmo de eu saber seu nome, ela me olhou curiosa - Também posso ler mentes, meu pai também pode... - ela abriu a boca.
-Ta brincando? Além de ser super dotada, ainda têm poder de super heroi. – eu ri com a comparação. – Acho que to sonhando, não pode ser verdade... - ela colocou a mão na testa.
-Se você diz que morar com um vampiro seja sonho, não pesadelo, então agradeço.
-Mais alguém tem essas habilidades?
-Eu conheço alguns vampiros que também possuem das mais variadas habilidades, mas... Alice pode prever o futuro, meu tio Jasper senti e pode controlar as emoções das pessoas. Meu avô diz que quando nós se transformamos, carregamos a nossa melhor habilidade quando humano e ela é... aumentada. Rosálie tem uma beleza hipnotizadora, meu tio Emmet é o mais forte de nós, minha mãe pode criar uma barreira com a mente em que nenhum poder psíquico a atinge, minha avó ama qualquer pessoa passionalmente, meu avô tem uma compaixão inigualável. – Bianca ainda olhava para a foto
-E o seu namorado... Qual o nome dele mesmo?
-Jacob. - falar o nome dele me aquecia. - Ele é um transmorfo, pode se transformar em um imenso e lindo lobo.
-Um lobo? – ela me olhou assustada pela primeira vez.
-Sim... Por isso ele está com a mesma aparência que tem aí na foto. Os lobos estão aqui para proteger as pessoas dos vampiros e eles não... envelhecem.- eu não tinha certeza se Jake nunca morreria.
-Oww... Você é a garota mais sortuda do mundo. – ela me olhava com fascinio. - Super poderosa, uma família linda imortal, um namorado perfeito... – ela suspirou
-E não se esqueça de uma melhor amiga mágica!
-Claro... – ela revirou os olhos
-Mas e você tem alguma habilidade especial... Telecinese? – eu brinquei
-Hum... Se você considerar empatia e ver a aura dos outros uma habilidade. – ela deu de ombros. – Ah! - se lembrou de algo - Agora faz todo o sentido! - falou para si - Por isso Alice não tinha uma aura, eu achei que eu estava com algum problema... - e olhou pra mim - Acho... que vampiros não possuem auras.
-E o que são elas?
-Aura é uma energia que todos os seres vivos emanam. Ela é tipo um campo energético que envolve o nosso corpo e nos dá toda a leitura emocional. E a forma e a cor dela refletem o estado físico, mental ou emocional de alguem.
-E minha tia não possui uma porque... não tem alma? - uma vez ouvi meu pai falar nessa teoria - claro, que eu estava ouvindo escondida, eu ainda era bem pequena, mas aquilo me fez duvidar de muitas coisas.
-Não. Não - balançou a cabeça - Eu acho que não. Apenas... De que ela não está viva, e cá entre nós, é verdade, não é? - eu concordei surpresa
- Ah, as vezes tenho sonhos premonitivos, mas isso é normal...
-Você... - e voltei ao antigo assunto - Disse que é empata, o que é empatia mesmo? – eu não sabia exatamente
-É quando você sente as emoções das pessoas.
-Como meu tio Jasper. – falei animada
-Deve ser... - ela me entregou a foto.
Eu peguei a mão dela e ficamos nos olhando.
-Sem mais segredos...
Ela concordou com a cabeça e me abraçou.
Será que Alice ia ficar brava quando descobrisse ou minha família?
Aí...
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