-Vai, Reh, vai... – ela me empurrava – Animo!
Eu concordei com a cabeça e dei um sorriso forçado. Hoje iríamos a Basilique du Sacré-Coeur e a catedral de Notre-Dame. Mais um dia de turista, mas um dia aprendendo.
Resolvemos almoçar no hotel e jantar fora.
Depois do almoço, pegamos um trem e fomos ao Château de Versailles ou Palacio de Versalhes, foi muito divertido, tiramos varias fotos...
Já era umas 7 da noite e a monitora tinha nos liberado para ficar ate mais tarde.
Procuramos um restaurante e novamente meu francês ajudou, depois fomos a uma casa noturna, estava um pouco escuro com luzes coloridas rodando, não tinha muita gente, era mais parecido com um barzinho, nós se sentamos em uma mesa e pedimos algo para beber.
Depois de um tempo conversando, as bebidas ainda não tinham chegado...
- Gente vou ver porque tá demorando. – me levantei e fui na direção do bar.
Me sentei no banquinho e esperei alguem me atender...
Senti um cheiro tão familiar, mas tambem tão diferente que me fazia recuar, eu inspirei mais uma vez, aquele cheiro fortemente adocicado que tanto conhecia, era um vampiro.
Eu virei por instinto para o lado, ele tambem e encontrou meu olhar, era um homem de mais ou menos 24 anos, cabelos negros ondulados levemente para trás, um pouco acima dos ombros, seus olhos eram num tom vermelho mas tambem ambar, seu rosto era angelical e misterioso. Eu arregalei os olhos surpresa... Ficamos nos analisando.
Eu só ouvia sua respiração, seu coração não batia, ele era realmente um vampiro. Fiquei imaginando quem falaria primeiro, quem tinha menos medo naquela hora...
Ele se moveu, meu corpo enrigeceu, eu estava pronta para me defender ou atacar caso algo acontecesse.
-Bonne nuit... –*Boa Noite* e me estendeu a mão.
Eu fui devagar, mais apertei sua mão. Ele não faria nada em publico.
“Mas que coisa interessante... O que ela é? Seu coração bate como o bater de asas de um beija-flor, seu sangue pulsa, mas seu cheiro é de imortal ou humano... Quem é ela, o que é ela?” – ele se perguntava
- Prazer... Meu nome é Renesmee. Qual o seu? – eu não sabia o que estava acontecendo minha maldita curiosidade sendo mais forte que o medo.
- Me chamo Michael, mas pode me chamar de Mike... – ele sorriu, era um sorriso tão cativando e charmoso. Seu francês o deixava mais atraente. - Você não é daqui, é?
-Não. Eu estou em uma excursão com a minha escola... - mesmo tentando ter uma conversa, eu não tinha me movido um centímetro, meus músculos ainda estavam rígidos. Ele fez cara de espanto...
- Escola?
- Sim... Você é daqui?
- Sim. Você é da onde? – ele aos poucos se mantinha mais relaxado, eu ainda não.
-Brasil... Quero dizer – eu balancei a cabeça - Estados Unidos...
Ele ficou surpreso.
-Então você é americana... – ele mudou completamente falando à língua que mais usei na minha vida, inglês, mas ainda tinha sotaque francês.
-Sim, minha família mora lá. – respondi em meu idioma
-Fa-Família... – ele gaguejou
Eu concordei com a cabeça, com medo de dar informações de mais.
- Hum... Me desculpa a sinceridade, mas você é tão diferente... – ele me analisava – O que é você?
- Eu não acho muito correto, dizer aqui... – eu olhei ao nosso redor – Você me diria o que é?
Ele concordou, me entendendo.
- Vamos lá para fora? – ele desceu do banco e me ofereceu a mão como um cavaleiro.
Minha respiração estava entrecortada...
- Preciso só avisa meus colegas... – e desci sem pegar na sua mão indo falar com a Bianca.
Me aproximei do ouvido dela.
- Bia, eu já volto... – ela me olhou confusa, mas não disse nada e eu me afastei.
Eu olhei pra ele e continuei andando para a saída, andei até o mais distante da casa noturna e onde não tinha ninguém.
-Pronto. – disse á ele, passos atrás de mim.
Ele encostou-se na parede, com os braços cruzados no peito.
- O que você é? – sua voz estava me parecendo mais receosa que a minha própria.
- Sou como você, mas também sou humana... – sussurrei
Ele me olhou desnorteado.
-O que?
- Minha mãe me teve quando era humana e meu pai é vampiro. Eu nasci meio humana, meio vampira...
Será que estou dando informação demais?
- Mas... Q-que estranho. Nunca vi nada assim em todos esses anos, já tinha ouvido falar, mas... – ele me olhava fascinado. – Se não estivesse aqui com você, eu não teria acreditado.
- Agora você... O que faz aqui, caçando? – usei um leve tom de repulsa
-Não... Eu moro aqui. E em relação à caça, eu não caço humanos, me alimento de bolsa de sangue frescas na maior parte do tempo, me alimentar de humanos é raro. - agora eu olhei para ele desnorteada, o que ele estava dizendo? Que não matava humanos... – E você, caçando? Você se alimenta como nós?
-Sim, mas não mato humanos, me alimento de animais.
-Animais? Nossa, diferente... Mas então você não deve viver na cidade.
-Não, moro próxima a uma densa floresta e onde não faz sol, bem... eu não tenho diferença no sol... Por falar nisso, como você pode viver aqui?
- Em dias de sol não saímos de casa, mas da pra levar uma vida normal, se pode dizer normal. Podemos dizer que somos vampiros urbanos... – ele riu de si mesmo.
- “Somos”? – eu observei o plural que ele usou
-Sim. Não sou o único vampiro da cidade. - ele deu uma pausa - Posso te convidar para uma coisa? - ele desencostou da parede e deu dois passos na minha direção.
-O que? - olhei desconfiada
-Você não acha melhor ir para minha casa, lá nós podemos se conhecer melhor... – ele deu novamente aquele sorriso cativante
- Eu não sei... Até agora você não me parece confiável... Apesar de não caçar humanos e eu saber que não está mentindo... – hesitei
-Você acha que eu estou seguro com você perto de mim? Uma coisa diferente, imprevisível...
- Tudo bem... É longe? – eu o interrompi
-Não, é um apartamento na outra rua. – ele começou a andar.
“Mas o que estou fazendo? Eu não sei o que esperar dela, ela pode ser perigosa, mais forte que eu... ou mais fraca? Mais rápida?...” – eu o observava a minha frente.
O segui até um grande apartamento de janelas cinza, não falamos nada até entrar no apartamento...
Que era muito grande e moderno, preto, branco e vermelho, muito bem decorado.
- Então... Onde estávamos? – ele se sentou no sofá.
- Quantos anos você tem? – eu me mantive em pé, encostada na parede próxima á porta.
- 25? – ele levantou uma sobrancelha. Eu dei um sorriso torto... e esperei. – Nasci em 1776, transformado em 1801... Sou idoso, já... – ele riu sem graça. - E você, 15? – brincou
- 20... Realmente. – respondi – Mas não mudarei. – eu acrescentei
- Como assim?
-Eu parei de “crescer” com uns 9 anos, com 8 eu já tinha a aparêcia de uma pessoa de 17...
-Nossa... E como é a sua família?
Eu cortei minha respiração, eu não acho seguro falar sobre a minha família. Falar de mim até que vai, mas dar informações deles...
-Talvez outra hora... – eu olhei no relógio, já passava da meia-noite - Por falar em hora, tenho que ir. – e me dirigi até a porta.
Ele se levantou e se aproximou...
- Quer que eu te acompanhe? – ele disse todo cavaleiro.
- Não, obrigada, eu me viro.
- Agente se vê... – ele sorriu.
Eu assenti com a cabeça e fechei a porta. O corredor estava vazio, silencioso, a não ser pelo meu coração descontrolado. Eu respirei lentamente tentando me acalmar...
Voltei pro hotel, à monitora me deu uma bronca mais eu estava meio aérea, pensativa.
Subi para o quarto, a Bia estava acordada me esperando, a Gabi dormindo.
- Fala! Fala onde você tava? – ela perguntou ansiosa.
-Eu... Eu encontrei com um outro... – e apontei pra Gabriela. – com um você sabe o que.
-Nossa! E aí, como ele era? Feio, bonito, malvado, bonzinho? – ela me deu uma enxurrada de perguntas
-Calma, Bia, eu ainda não sei muito sobre ele... Ele falo que se alimenta... – cochichei em seu ouvido. – de bolsas de sangue, não se alimenta de humanos. – eu me afastei – Tem um apartamento lá, muito grande e sofisticado. Hum... Posso dizer que ele é charmoso... – falei pensativa e toquei sua mão - Quer que eu te mostre? - ela assentiu e mostrei uma imagem dele, sentando em seu sofá.
-Charmoso? Ele é um deus grego, isso sim! - me corrigiu, eu ri - Quando vai vê-lo de novo?
- Ah, não sei. – eu mordi o lábio.
- Que pena... Agora ta na mão do destino, ou – ela me olhou maliciosa - você pode ir ao apartamento dele.
Eu franzi a testa.
-Claro que não... Hoje foi apenas um encontro, um acaso, é bem possível que nunca mais veja ele de novo. – eu tentava convencê-la e também a mim mesma.
- Sei... – ela semicerrou os olhos, desconfiada e bocejou involuntariamente. - Boa noite. – e foi se deitar.
-Boa noite. – eu respondi, enquanto trocava de roupa e fui pra cama.
Eu observei o céu, deitava – pois minha cama ficava próxima a varanda- estava claro, umas nuvens ao redor da Lua minguante e várias estrelas vermelhas e azuis, mas prevalecia as brancas...
Da onde veio aquele vampiro? Quem é esse tal de Mike? Será que posso confiar nele... mas duvido muito que veja ele de novo, apesar da minha curiosidade estar me matando.
Um vampiro que se alimenta de bolsas de sangue, é quase tão raro, quanto um se alimentar “apenas” de animais.
Estava escuro, tudo negro. Eu passava as mãos a minha frente tentando tocar em algo, nada, até que um tempo andando na escuridão, avistei uma luz, um ponto de luz, não sei por que, mas eu tinha que ir ate lá, chegar mais perto, ver melhor. Eu ia andando na direção da luz quando tudo ficou branco, vi um homem de costas, alto, moreno, ele olhou pra mim, eu abri um imenso sorriso e corri para abraçar Jacob, ele não se moveu era como se estivesse congelado, apesar de que seu corpo estivesse quente e lentamente ele passou seus braços pela minha cintura, eu agarrei em seu pescoço e fiquei abraçada a ele, quando eu ia dizer seu nome, meus braços caíram, não havia nada para apoiá-los, Jake tinha sumido.
Naquela hora eu já deveria ter notado que era um sonho, mas me veio um sentimento de solidão, desespero que não pensei em mais nada e comecei a chorar, pensando aonde tinha ido o Jacob eu cai de joelhos com as mãos no rosto. Senti algo em meu ombro esquerdo, eu virei meu rosto, tinha uma mão masculina, branca, rústica, morta. Eu me virei para ver quem era e...
-Acorda!! – a Bia gritou do meu lado.
Eu abri os olhos lentamente acostumando com a luz e os - esfreguei.
-Hã?
-O ônibus vai sai daqui a pouco! Pra um vampiro você dorme demais... – ela disse pensativa.
Eu olhei assustada ao nosso redor, para ver se alguém tinha escutado, nós estávamos sozinhas.
-Tá todo mundo lá embaixo. - ela me informou – Você vai com a gente?
-Hum... Acho que não, vou dar uma volta sozinha, depois encontro com vocês aqui no hotel.
Ela me olhou espantada.
-O que? Você não vai?
-Não... Fala pra monitora que to passando mal, sei lá...
-Ta. – disse chateada.
-É só um dia. – eu peguei sua mão. Ela concordou com a cabeça e saiu.
Eu me troquei e desci para confirmar a história que a Bia tinha falado, depois subi e tranquei a porta. Saindo pela varanda...
Fiquei tirando fotos da rua, das pessoas, dos carros apesar do tempo não estar muito bom as fotos ficaram lindas. Era tão divertido andar sozinha quanto em grupo.
Fui ao Champs-Élysées, a Avenida mais famosa de Paris, depois peguei um trem e fui para Versalhes. Não era algo planejado, mas eu sabia que estava indo para Versalhes não somente para ver a paisagem, mas também por que queria encontrar com aquele vampiro misterioso de novo.
Depois de um tempo, sentei em uma mesinha que estava na parte externa de um restaurante e fiquei escrevendo cartões postais para o pessoal de Quilcene.
- Dame, pour vous... – * Madame, para você* o garçom me entregou um bilhetinho e apontou para um homem sentado a uns 6 metros de mim.
Vejo que nos encontramos de novo...
Gostaria de te conhecer melhor.
Vamos terminar a conversa de ontem?
Eu olhei pra ele, que estava sorrindo, ansioso... Eu sorri involuntariamente e me levantei indo em sua direção, ele me ofereceu uma cadeira e a puxou para me sentar, depois voltou ao seu lugar.
-Tudo bem? – me perguntou tranquilamente
-Sim...
-Vejo que o destino nos juntou de novo.. – ele disse brincando.
-Acho que não... Eu estava explorando a cidade e isso poderia ter uma porcentagem grande para que eu te encontrasse por acaso. – entrei na brincadeira.
Ele me analisou... Eu olhei para o cardápio, envergonhada.
-Estava ansioso para te ver de novo. – ele quebrou o breve silêncio.
-Eu também estava curiosa. – admiti.
Ele deu um sorriso que me pareceu um pouco malicioso... E o encarei, mas não deu tempo de ler seu pensamento.
Vem comigo? – ele se levantou e me ofereceu a mão. Eu olhei desconfiada, torci a boca em duvida, mas peguei na mão dele.
Nós andamos por um tempo e percebi que ele estava me levando ao Palácio de Versalhes.
Quando entramos, ele cumprimentou os guardas e alguns monitores do museu. Fomos ate á Galeria de Espelhos, uma sala iluminada por dezessete janelas que têm a sua frente, espelhos que refletem a vista dos jardins. Era mágico.
-Meu avó ajudou na expansão do Palácio... – ele falava sorrindo – Aqui era o lugar preferido dele, do meu pai e o meu...
- É lindo... – comentei
- Quer conhecer o Palácio como ninguem? –ele me propos travesso
-Claro. – concordei
“A cura para o tédio é a curiosidade, porém não existe cura para a curiosidade.”
-Vem. – ele disparou por uma das portas, eu o segui.
Ele me mostrou varios outros lugares escondidos, uns até mesmo pareciam passagens secretas, ele me contava as historias do lugar, das salas...
“A cura para o tédio é a curiosidade, porém não existe cura para a curiosidade.”
Gostou? Me diz o que achou desse capítulo! Até o proximo...
Nenhum comentário:
Postar um comentário